segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Wagner Schwartz

Corpo

Piranha: O Bando e a Reclusão


Wagner Schwartz, coreógrafo, pesquisador, linguista, vídeoartista, ou ainda, pluriartista!
Piranha, este é o nome do projeto que Wagner vem pesquisando e desenvolvendo ao longo de 2 anos. De múltiplas facetas é ampliado também em links, textos, vídeos, movimentos, tipografias. É itinerante, em ciclos, transformando-se incessantemente em cada um deles como se fosse único, e ainda veloz, intenso, agregando sempre mais na mutação.
Piranha fala da metáfora cotidiana, e nisso que perfaz a angústia própria do mundo contemporâneo que é, definitivamente, onde a dança se inscreve. Uma angústia expressa pelo corpo, por vezes sobre o corpo, em sua melhor forma.

Esta obra tematiza as relações interculturais de um estrangeiro recluso de seu bando em lugares a serem reconhecidos: o exílio cultural, as possibilidades de se viver, sobreviver ou surpreender. Trata-se de uma antropofagia, ou como Wagner prefere, um endocanibalismo do séc. XXI, mas que, neste sentido, “comer o outro” [relendo Oswald de Andrade], amplia-se à noção de que o estrangeiro sou eu entre os outros num mesmo espaço globalizado. As relações e os corpos mudam de perspectiva: somos todos “outros”, parte de um bando e a metáfora do corpo-piranha,  potencializa essa discussão. 

A escolha do nome foi primordial para o trabalho, segundo Wagner, porque representa a redução simbólica de suas experiências ao longo dos 4 últimos anos de percurso entre São Paulo, Berlim, Paris, Uberlândia. 

E o próprio modo de criação aponta para este intercâmbio antropofágico: a parceria com amigos, artistas, pesquisadores, uma aposta nas redes, nas trocas, na soma. A piranha é um peixe que vive e ataca em bando e é conhecida por sua ferocidade, potência e distinção.

Sentimentos próprios de um estado de confronto entre o corpo e as imagens do pensamento. A coreografia é feita a partir das relações mais íntimas com esse universo que produz sensações voluntárias e involuntárias. Os movimentos do corpo peixe-homem ajustam-se a esse procedimento que é também apaziguador.  
O que permeia é uma semiose, um fluxo que está sempre produzindo a sua continuidade, que não estanca e não se estanca. 



Na dança, seu movimento fragmentado faz da instabilidade uma estabilidade. Uma mudança contínua no inacabado e ainda assim consegue manter uma cadeia estrutural. Parece incrível, mas Wagner afirma não ter uma rotina de trabalho, e sim, uma relação espontânea, de movimento entre si mesmo e as coisas do mundo. "Acredito que o que seja incansável e, que talvez chamam de estrutura, é a coreografia que faço do que é possível do espaço contemporâneo. Sua complexidade exige tempo, técnica, estudo, confrontação. Uma relação direta com suas entidades, com seus objetos."

Texto Raquel Bambozzi
a partir de entrevista de Lourdinha Barbosa



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