Os anos 70 estão sendo revisitados. Eles retornam aos holofotes em oposição ao minimalismo que reinou durante os anos 1990 e tem voltado à moda nas últimas coleções. A estética traz a nostalgia do “paz e amor”, mas também reflete os dias de hoje, nos quais diversas pessoas se articulam em torno da idéia de um mundo mais livre, pacífico e sustentável. Dentre as peças que marcaram época, sem dúvida, está o vestido longo. Confortáveis e femininos, eles dominaram o verão do hemisfério norte.
A década de 70 me fez lembrar de uma personalidade emblemática que transitou com elegância pelos excessos dessa década: Jacqueline Bouvier Kennedy Onassis. Dezeseis anos após sua morte, ela continua sendo conceito de bem vestir e influênciando gerações. Prova disso são os óculos de sol usados por Jackie nos anos 70 que Nina Ricci reeditou agora.
"Resistir ao teste do tempo sem parecer datado ou simplesmente ridículo, como acontece com a maioria dos mortais, é talvez o teste definitivo da elegância. E, em se tratando desse assunto, nunca houve mulher como Jackie – pelo menos nos Estados Unidos (e fora deles apenas a atriz Audrey Hepburn atingiu o mesmo patamar mitológico). Nos menos de três anos de governo do marido John, ela criou e marcou para sempre sua imagem: a primeira-dama bonita, refinada, chiquérrima, impecavelmente vestida mesmo quando estava de calça, camiseta e sandália.
"Jackie foi um dos maiores ícones de toda a história da moda", resume Amish Bowles, editor de moda da revista Vogue, "Ela teve, e ainda tem, profunda influência sobre a maneira como toda uma geração gostaria de se vestir e até de se comportar."
Com Jackie e seu fabuloso senso de estilo, nos Estados Unidos, finalmente, ".'bom gosto' se tornou bom gosto", como definiu a editora e papisa de moda Diane Vreeland, ela mesma uma das mentoras estéticas da primeira-dama. Jacqueline Kennedy veio ao mundo com o material básico para ser chique: um rosto marcante (que ocultava defeitos, como os olhos separados demais e os dentinhos tortos), seios pequenos, quadris secos, barriga batida e pernas bem torneadas. Tudo lhe caía bem. Nunca mudou a cor do cabelo, usava pouca maquiagem e foi eliminando os acessórios até chegar à perfeição de sua ausência – exceto pelo lenço amarrado sob o queixo e os óculos enormes, que entraram para a história da moda como o tantas vezes ressuscitado modelo Jackie O.
Menina rica de elegância inata, burilada em viagens e compras em butiques exclusivas, seu estilo ganhou um glamour extraordinário nos anos da Casa Branca. Ganhou tanta estatura simbólica que o assassinato de Kennedy, em 1963, costuma evocar imediatamente duas imagens: o presidente tombando no carro conversível e o tailleur cor-de-rosa manchado de sangue usado por Jackie. Nada – nem o casamento argentário com o magnata grego Aristóteles Onassis, nem ter sido fotografada sem roupa por um paparazzo, nem os excessos dos anos 70 – apagou seu brilho. Jacqueline Kennedy simplesmente acrescentou mais um pilar ao conjunto de sua elegância – um sólido e impenetrável silêncio sobre a vida particular – e, nele encerrada, permaneceu bela, refinada e chique até morrer, vítima de câncer, aos 64 anos. Usando, até o fim, óculos enormes, lenço na cabeça e sapatos sem salto.
Marcas registradas
O estilo Jackie Kennedy pôs no vocabulário da moda expressões como o pillbox hat, chapeuzinho redondo como uma caixinha de comprimidos que ela usava sempre – muitas vezes fazendo conjunto com um redingote, vestido com cara de casaco que também celebrizou. Outros itens tipicamente Jackie: o colar de pérolas de três voltas, os óculos escuros enormes, a luvinha branca (fotos abaixo) e o sapato raso e baixo."
Fonte: Revista Veja. Edicação 1 691. 14 de marcço de 2001
Fonte: Revista Veja. Edicação 1 691. 14 de marcço de 2001
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